quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

"Gordura é uma questão feminista" - Parte 1


Fico indignada ao ver em prateleiras de livrarias ou mesmo olhar em livrarias on-lines a escassez de livros de cunho feminista. Já para comprar livros de qualidade literária e ideológica duvidosa é fácil, a oferta é abundante. Digo isso por experiência própria, por compras canceladas em boas livrarias por não terem os livros pedidos em estoque. Se não havia em estoque, não ofertasse o produto, acho simples assim.


Uma pequena, mas ótima solução para esse meu problema, apareceu em um site que disponibilizou livros feministas para download. Em tempos de caça à violação de direitos autorais, o site é realmente um achado! Depois de revirar todo o site - e baixar todos os livros - fiquei incomodada por não conseguir ler no computador. Não me atento à leitura como me atentaria se fosse no papel. Sou "das antigas", gosto de pegar o livro, folhear, cheirar, carregá-lo do sofá pra cama e pra qualquer lugar que eu vá. Então comecei a procurar nas livrarias on-lines os tais livros e me deparei com "sua busca não retornou nenhum resultado" ou então encontrei os livros apenas nas versões em inglês e olha, meu nível de inglês ainda não me permite ler um livro todo em inglês (quem sabe um dia!).

Depois disso, estou tentando me contentar com as versões em PDF e treinando meus olhos pra ficar mais tempo na frente do computador lendo...


O livro que eu mais queria no momento, apesar de ter encontrado nesse site, se chama "Gordura é uma questão feminista" de Susie Orbach, traduzido para português pela Cinthia Barki. Vale a pena frisar que o livro foi escrito em 1978, porém o tema não deixa de ser atual. A autora parte da perspectiva feminista para analisar o que é para uma mulher ser gorda na sociedade em que vivemos, fala sobre a compulsão por comida e destrói as falsas ideias pré-concebidas de que uma mulher gorda está assim porque não tem autocontrole e força de vontade para emagrecer. Mesmo ainda não tendo lido o livro inteiro uma frase me chamou a atenção: "O feminismo demonstra que ser gorda representa uma tentativa de romper com os estereótipos sexuais da sociedade. Assim, podemos entender o ato de engordar como algo preciso e intencional; é um desafio dirigido, consciente ou inconscientemente, à estereotipagem de papéis sexuais e a vivências de feminilidade culturalmente definidas".

Para perceber como nossa sociedade empurra nós mulheres para um único padrão de beleza basta folhear alguma revista voltada para o público feminino. Não será difícil encontrar alguma matéria com dicas de dietas malucas ou falando horrores de uma subcelebridade que ganhou uns quilinhos: "ó, como fulana pode estar tãão gorda?", sendo que notavelmente a tal pessoa está no peso normal.

Não se convenceu? Ligue a TV nesses programas da tarde (nem preciso dizer o nome, né) e você vai se deparar com matérias que mostram como as mulheres famosas também tem celulite. NOSSA! É como se toda essa mídia nojenta fizesse uma lavagem cerebral em nós mulheres, tentando passar a mensagem: "você, uma simples mortal, deve ficar feliz porque as super famosas também sofrem com esse mal (ironia) que é a celulite, elas também engordam uns quilinhos, elas também deslizam na dieta. Não se sinta tão culpada, ok?" E em seguida jogam na nossa cara reportagens de "como reduzir a celulite: a maior vilã das mulheres".

Parem! Nós temos cérebro e sim, nós temos celulite, estrias e gordura. Tudo isso compõe uma mulher REAL, uma mulher que acorda cedo e vai trabalhar ou estudar, que almoça arroz e feijão e gosta de comer chocolate, que bebe cerveja com os amigos. Não somos robôs para enfiarem ideias em nossas cabeças de que precisamos seguir um padrão de beleza ou senão... senão o quê? Não seremos bem aceitas? Seremos vistas com repúdio pela sociedade? Por que não podemos nos aceitar da forma que somos: gordas, magras, baixas, altas, com sardas, cabelo crespo ou cabelo liso? A maior aceitação que precisamos ter parte de nós mesmas e bom, sobre isso, eu vou deixar pra outro post porque o texto já tá ficando longo demais.






segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Miss Representation: contra a mídia machista

Agora nas férias estou tendo tempo livre para colocar dois vícios em dia: ler e assistir filmes. Gosto de assistir a filmes que me acrescentem algo novo e me faça refletir sobre algo. Coincidentemente encontrei um site chamado "Cine Conhecimento" (acesse o site aqui), e depois de mexer no site inteiro e querer baixar quase todos os filmes, encontrei um documentário super interessante que quero comentar aqui hoje.

O documentário se chama Miss Representation e foi feito nos Estados Unidos por uma ONG feminista e até ganhou um prêmio. Várias mulheres influentes nos EUA participam do documentário como Katie Couric, Nancy Pelosi, Condolezza Rice, entre outras.O objetivo do documentário é mostrar como a mídia faz uma "má representação" da figura feminina, ou seja,  mostra como os principais meios de comunicação representam as mulheres em posições inferiores e subjugadas e como isso contribui para a inferiorização da mulher na sociedade.

Se tomarmos como ponto de partida para nossa discussão a influência que a mídia - principalmente a TV  - traz para a vida das pessoas e analisarmos o que essa mídia traz como mensagem, entenderemos de onde nasce, por exemplo, a preocupação excessiva com o corpo. O que o Miss Representation mostra é que desde crianças as meninas recebem a mensagem que devem se preocupar com a aparência e os meninos recebem a mensagem que devem valorizar isso nas garotas. Discursos como esses estão presentes em filmes, anúncios publicitários, músicas e desde muito cedo as crianças estão expostas à esse material 'contaminado'. Nossos jovens crescem, dessa forma, se importando mais com a beleza e seus conteúdos exteriores.

O documentário retrata, ainda,  a forma como as mulheres são representadas nos filmes de Hollywood: as protagonistas quase nunca são do sexo feminino e quando são, as personagens estão em busca de alguma relação romântica perpetuando a ideia de que a mulher só é feliz quando encontra seu "príncipe encantado", não podendo ser plenamente feliz e realizada sozinha.


E uma das principais discussões que se materializa na frase-tema "You can't be what You can't see" (Você não pode ser o que você não pode ver), engloba questões como a chegada de mulheres a cargos de liderança. Apesar de hoje as mulheres ocuparem cargos importantes e que antes eram considerados apenas masculinos, ainda assim há poucas mulheres na política, segundo o documentário. A mídia oferta uma imagem de mulher-objeto e quanto mais as mulheres se auto-objetificam maior é a chance de elas se tornarem depressivas, desenvolverem transtornos alimentares, etc. Isso se relaciona com as mulheres em posições de liderança, uma vez que" mulheres que se auto-objetificam tem menor eficácia política", entendendo eficácia política aqui como a noção de que sua voz importa e que você pode mudar a política. O perigo é o de as jovens acharem que a objetificação da mulher é normal, algo que já está acontecendo no mundo inteiro. Isso gera uma menor probabilidade dessas mulheres concorrerem a cargos políticos. Dessa forma, a intenção é mudar a imagem que a mídia faz da mulher: ao invés de uma imagem sexista, machista, essa ONG entende que se as meninas virem na mídia imagens positivas sobre a mulher, como ocupando cargos de liderança na política por exemplo, elas poderão se espelhar naquilo que elas estão vendo e se também se tornarem líderes (You can be what You can see).


Ao colocar luz nessas questões, Miss Representation nos leva a refletir sobre quais são os valores que estamos recebendo através da mídia e nos torna um pouco mais conscientes, não nos deixando engolir prontamente tudo o que vemos por aí.

Vale a pena, portanto, assistir ao documentário e, para quem se arrisca no inglês, a ONG possui um site que fala quais são os objetivos e o que ela está fazendo para conscientizar as pessoas:  Dá uma conferida lá!




"A mídia pode ser um instrumento de mudança: ela pode manter o status quo que reflete os pontos de vista da sociedade ou pode, quem sabe, despertar as pessoas e mentes para a mudança. Eu acho que depende de quem está pilotando o avião".

Katie Couric - Jornalista